Pequenas variações nos percentuais ou prazos praticados em operações de crédito podem ter um grande impacto no orçamento empresarial.
Os juros compostos são a modalidade predominante na economia brasileira, sendo aplicados na remuneração de investimentos, empréstimos,financiamento e transações de crédito. A diferença é que eles pesam muito mais do lado das dívidas, às quais são aplicadas taxas mais elevadas, do que das aplicações financeiras, rentabilizadas com base na taxa básica de juros (Selic), compara o diretor- executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira.
A taxa Selic, que até março estava em 2% ao ano, chegou a 7,75% ao ano em outubro, com perspectiva de alta, processo que deve se estender até 2022. O mercado estima que a taxa anual chegue a 9,5% até o final do ano que vem, de acordo com o Boletim Focus publicado em 25 de outubro de 2021.
Nas operações de crédito, o percentual aplicado é muito superior, pois são considerados outros fatores que influenciam as operações, como riscos de inadimplência e margem líquida. Por exemplo, a conta garantida, que já contempla linha de crédito pré-aprovada para pessoa jurídica, apresenta taxa média de 126,49% ao ano, segundo cálculos feitos pela Anefac em setembro de 2021.
Esse percentual pode ser maior ou menor dependendo da instituição financeira, assim como há variações entre diferentes linhas de crédito– no mesmo período, o capital de giro e o desconto de duplicatas registraram taxas médias anuais de 17,18% e 19,42%, respectivamente.
“A primeira recomendação é considerar que existem diferentes linhas de crédito e cada uma tem suas características”, aconselha Oliveira. A melhor condição de crédito, portanto, vai depender de muita pesquisa, que deve observar, ainda, as taxas de juros praticadas por diferentes instituições. “A ideia é buscar o prazo mais curto possível e a menor taxa”, ressalta. “E, claro, é necessário olhar para dentro do negócio para ver se consegue alternativas para evitar o empréstimo no banco”.
Variações que fazem toda a diferença
A aplicação dos juros compostos sobre o valor das dívidas gera um efeito exponencial até a quitação do débito. Dessa forma, qualquer ponto percentual de alta ou ampliação no prazo de pagamento têm impactos significativos sobre o saldo. Compare!
Prazo | 12 meses (R$) | 24 meses (R$) | 36 meses (R$) |
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Valor da dívida | 100.000,00 | 100.000,00 | 100.000,00 |
Taxa de juros 1 (10% ao ano) | 110.033,87 | 121.074,52 | 133.222,98 |
Taxa de juros 2 (12% ao ano) | 112.014,92 | 125.473,43 | 140.548,96 |
Diferença | 1.981,05 | 4.398,91 | 7.325,98 |
A taxa Selic, que até março estava em 2% ao ano, chegou a 7,75% ao ano em outubro, com perspectiva de alta, processo que deve se estender até 2022
Oliveira argumenta que adotar o sistema de pagamento instantâneo (Pix) pode favorecer a geração de receita, reduzindo o custo e o tempo relativos aos valores a receber. Outro ponto importante é o compartilhamento de informações via Open Banking. “Quanto mais informação o banco tiver a seu respeito, melhor condição de crédito vai oferecer. A autorização para troca de dados facilita a redução das taxas”.
Atenção com as projeções
Os juros compostos, por si só, já são mais prejudiciais para as operações de crédito, pois são constantes e crescentes – diferentemente dos juros simples, que são fixos e aplicados sobre o valor principal. No contexto atual, de elevação da taxa Selic, as preocupações aumentam.
A elevação da Selic se propaga para todas as operações do mercado financeiro, adverte o professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/EESP), Joelson Sampaio. Como a tendência é de alta, as taxas atualmente cobradas pelas diferentes linhas de crédito também devem subir.
Qualquer variação percentual, mesmo um ou dois pontos a mais, tem reflexo sobre o custo final de uma dívida. A aplicação de juros sobre juros, característica fundamental dos juros compostos, resulta em um crescimento exponencial, que se aprofunda com a elevação do prazo de pagamento.
Sampaio recomenda que esse ponto também seja observado na tomada de crédito, com o objetivo de adequar as parcelas a pagar ao menor prazo possível. “Além da taxa aplicada, é importante se atentar à questão do prazo, porque ele tende a afetar, de forma relevante, a diferença no final do período”, observa.